Os imigrantes japoneses e o café.
“Eu me pergunto com freqüência como será isso a que todos chamam de ‘café’, pois nunca vi uma fotografia ou um retrato seu” (Teijirō Suzuki, Burajiru Nihon imin no kusawake, Nippaku Kyōkai, 1933, pp. 5-6).
Teijirō Suzuki conheceu Ryō Mizuno a bordo de um navio que seguia para o Chile, no final de 1905. Suzuki, que aderiu ao projeto emigratório de Ryō Mizuno, começou a trabalhar numa fazenda de café no ano seguinte (dois anos antes da chegada do Kasato-maru, portanto), provando que o imigrante japonês se adaptava com facilidade ao trabalho na lavoura cafeeira. O feito tornou-o conhecido como “exemplo de imigrante japonês”.
É desnecessário dizer que o sonho de trabalhar como colono (trabalhador remunerado) numa fazenda de café e retornar à pátria coberto de glória era comum a todo imigrante “correto e disciplinado”.
O Brasil, país que eles nunca haviam visto, era uma terra onírica, onde cresciam árvores cujos frutos eram o dinheiro.
Conta-se que o café foi trazido ao Japão pelos holandeses durante o período de reclusão. Para que o café se tornasse conhecido da população, porém, foi necessário um tempo muito maior.
A importação do café teve início em 1866, efetivamente. As taxas de importação para o produto foram reduzidas significativamente através do Novo Código Tributário.
Entretanto, o volume de café importado anualmente entre 1877 e 1912 — período em que o café começa a aparecer nos registros alfandegários — não passava de 100 toneladas. Comparado ao preço de cerca de 15 kg de arroz (0,555 ienes), um quilo de café (comercializado a 0,326 ienes) era, em 1877, um artigo de luxo.
Os registros mais antigos a relacionarem a emigração com o plantio do café datam do início do século XVII. Segundo esses registros, muitos japoneses já trabalhavam nas plantações de café da C.ia das Índias Orientais, em Java. Também não foram poucos os que conquistaram o sucesso nos cafezais do México e do Havaí.
O ano de 1908, em que chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses, a fim de conquistar novos mercados para o café brasileiro no exterior, o governo do Estado de Sâo Paulo doou a Ryō Mizuno um total de 7,125 sacas de café, cada uma contendo 70 kg do produto, ao longo de três anos. Ao mesmo tempo, foi fechado um acordo segundo o qual Mizuno deveria abrir várias lojas de café por todo o território japonês, começando por Tōkyō e Yokohama (「伯国産珈琲本邦ニ於ケル販路拡張契約ニ関スル件」(fonte:Website of the Japan Center for Asian Historical Records)).
A grande questão que se apresentava era como liquidar um volume de café sete vezes maior do que aquele importado anualmente à época, pois, do contrário, não se poderia obter uma autorização do governo para importar tamanha quantidade do produto.
Nesse momento, foi Shigenobu Ōkuma quem contribuiu significativamente para a solução do problema, pelo menos no campo político e econômico.
“O café produzido pelos japoneses no Brasil é, praticamente, um produto japonês. O café obtido através dos esforços de Mizuno é a melhor forma de se aproveitar o açúcar. Esse empreendimento trará felicidade ao Japão no futuro”, disse Ōkuma.
Chama-nos a atenção o fato de que Ōkuma, que já contribuía com diversas atividades relacionadas à emigração e à colonização, tenha lançado também a pedra fundamental para a difusão do café brasileiro no Japão.
No outono de 1912, Mizuno abriu em Yokohama o Café Paulista.
Com o aumento de capital disponível, Mizuno transformou o Café Paulista numa sociedade anônima em 29 de outubro do ano seguinte. A sede do novo empreendimento foi construída em Ginza — com o tempo, novas filiais foram sendo abertas nas principais cidades do país.
É incalculável a contribuição dos imigrantes japoneses para o Brasil e do Café Paulista de Ryō Mizuno para o mercado cafeeiro japonês.
O logotipo da época da fundação, que imita o brasão de armas de São Paulo, ainda hoje enfeita orgulhosamente a fachada do Café Paulista em Ginza.