A Amazônia e os sistemas agro-florestais.
Em Tomé-Açu, a 250 km ao sul de Belém, cidade situada nas proximidades do estuário do rio Amazonas, os imigrantes japoneses vêm despertando a atenção do mundo inteiro com o sucesso obtido na aplicação da agricultura tropical — prática pouco responsável em termos ambientais.
A Colônia Tomé-Açu, criada no período pré-guerra com o nome de Colônia Acará pela C.ia de Colonização da América do Sul (que por sua vez fora criada com o capital da Kanebō do Japão), começou a receber os imigrantes japoneses em 1929. Como as técnicas da agricultura tropical ainda não fossem conhecidas, os imigrantes não tiveram sucesso no plantio do cacau, que se pretendia transformar no principal produto da colônia. Além disso, a administração da colônia era falha e o local era assolado por epidemias de malária, provocando a saída de muitos agricultores.
O cultivo de pimenta foi ganhando força no período pós-guerra, quando o preço da pimenta estava em alta no mercado internacional e começaram a surgir os primeiros magnatas da pimenta. Entretanto, o seu cultivo sofreu um grande golpe com a infestação das plantações pelo fungo fusarium no final da década de 60. Novamente muitos produtores partiram para outras regiões em busca de um solo que não estivesse acometido por nenhuma praga; os agricultores restantes começaram a testar nos quintais de suas casas novas espécies que pudessem substituir a pimenta.
Assim, depois da queimada eram plantados arroz, fabáceas, abóbora, tomate, algumas folhas (culturas de curto prazo — um ano), pimenta e maracujá (culturas de médio prazo — vários anos). As culturas de curto prazo se desenvolviam ao mesmo tempo em que afastavam as ervas-daninhas; nos espaços entre os caules de uma e outra planta, plantavam-se mudas de árvores frutíferas ou árvores cuja madeira pudesse ser aproveitada (castanheira, mogno, seringueira etc.). Dessa maneira, quando as culturas de médio prazo perecessem, ao cabo de cinco ou seis anos, as árvores frutíferas já dariam frutos e as demais árvores já teriam pelo menos 10 m de altura. Árvores de grande porte podiam ser transformadas em lenha. Com isso, era possível escolher quais culturas poderiam ser aproveitadas numa determinada época, não havendo épocas sem colheita. As possibilidades eram infinitas.
Essa prática, que permite recuperar ao longo de algumas décadas ou séculos a mata original reproduzindo os processos de transição naturais, recebe o nome técnico de “sistemas agro-florestais”.
“A mata nativa nada mais é do que um sistema orgânico feito uniforme, com todas as espécies vegetais, no decorrer de centenas de anos” (Noboru Sakaguchi, “Amazon nōgyō to Nihon no kokusai kyōryoku”) — porém, de acordo com os princípios adotados por esta técnica, em vinte e cinco anos contados a partir do plantio das árvores maiores, é possível recuperar entre metade e dois terços da mata nativa de uma floresta tropical.
O desmatamento e a proliferação das pastagens de gado prossegue na Amazônia, sendo a principal causa do desgaste ambiental na região atualmente. Em Tomé-Açu, o lucro obtido por uma propriedade com 25 hectares é equivalente ao lucro obtido com mais de mil hectares de criação de gado; numa fazenda de gado, são necessários cerca de dois ou três peões, enquanto que na mesma fazenda com sistemas agro-florestais exige-se entre 10 e 20 trabalhadores em tempo integral. Além do quê, como cultivam-se diversas espécies numa mesma propriedade, é possível criar uma situação de colheita perene. Do ponto de vista econômico, os sistemas agro-florestais também se apresentam como uma opção rentável porque é possível criar diversas combinações de culturas de acordo com a organização de cada fazenda. Os governos estaduais e federal no Brasil incentivam, mesmo entre agricultores não-nikkeis, essa técnica em que se prescinde da queimada e dos deslocamentos constantes.
Ao obter sucesso no plantio de juta e pimenta, os nikkeis já davam à agricultura tropical na Amazônia a sua contribuição; ao implantar esta nova técnica, porém, os nikkeis contribuem ainda mais para a preservação da mata tropical e para o desenvolvimento da agricultura simultaneamente.