Da “sociedade de patrícios” à “Colônia”.
A opção pela permanência definitiva e a febre da educação voltada aos nisseis.
O fato de não poder retornar ao Japão, dadas as condições em que o país se encontrava após o fim da guerra, obrigou os imigrantes, que sonhavam “retornar à sua terra natal cobertos de glória”, a optarem pela permanência definitiva no Brasil.
Uma vez decididos a permanecer no Brasil, houve um súbito aumento no interesse dos pais pela educação dos filhos, a fim de garantir-lhes uma posição estável na sociedade. Por mais custoso que fosse, muitos pais e irmãos mais velhos trabalharam arduamente a fim de garantir aos filhos e aos irmãos mais jovens uma vaga na universidade. O percentual de nipo-brasileiros matriculados em instituições de ensino superior aumentou em dez vezes, superando a média brasileira. A maior parte dos candidatos a vaga optava por carreiras como Direito, Medicina, Odontologia, Farmácia, Agronomia e Engenharia, que estavam ligadas a profissões bastante especializadas.
O ingresso dos nisseis na sociedade também se fazia evidente. Em 1954, Yukishige Tamura (nissei) era eleito deputado federal por São Paulo.
A questão dos nisseis.
Ao passo que os nisseis foram amadurecendo, os imigrantes da primeira geração (os isseis) passaram a se questionar se seus filhos não seriam diferentes deles próprios, e surgiu um intenso debate a fim de resolver se o nissei deveria ser mais japonês ou mais brasileiro. Para os nisseis, que tentavam assimilar-se à sociedade brasileira, aquilo que os japoneses consideravam pontos positivos nem sempre era o que os brasileiros contavam como ponto positivo, de modo que não se poderia ser “um bom brasileiro que carregasse dentro de si a cultura japonesa” ou “ser um bom brasileiro ao mesmo tempo em que seja um japonês perfeito”.
O avanço para outros estados e a concentração dos japoneses nas áreas urbanas.
Com o fim das restrições impostas pelos tempos de guerra, muitos japoneses mudaram-se para outros estados, como Paraná, Mato Grosso e Goiás, a fim de expandir o alcance das suas atividades para fora do estado de São Paulo, onde boa parte da mata nativa fora destruída e o solo, desgastado em decorrência do emprego de formas de cultivo mais primitivas. Outros começaram a migrar para a cidade de São Paulo e arredores, fosse para escapar aos conflitos entre derrotistas e vitoristas que ocorriam no interior, fosse para garantir aos filhos melhores oportunidades de educação. Com isso, cresceu o número de imigrantes que administravam lavanderias ou barbearias ou praticavam a agricultura de periferia, voltada para o consumo nas grandes cidades (plantação de hortaliças, frutas e criação de aves).
De 3.467 indivíduos em 1939, a população de japoneses no município de São Paulo cresceu para 62.000 (aumento de vinte vezes) em 1958.
Da “sociedade de patrícios” à “Colônia”.
Desse período em diante, a sociedade formada originalmente pelos imigrantes japoneses passa a compreender também os seus filhos, portadores de nacionalidade brasileira. Termos como “comunidade dos patrícios” ou “comunidade japonesa” já não davam mais conta dessa nova realidade, sendo gradativamente substituídas pelo vocábulo “colônia” (aglomeração de imigrantes). Com isso, essa sociedade passou a ser chamada de “colônia japonesa” (“nikkei colônia”) ou, simplesmente, “Colônia”.
Tabela: Percentual de nipo-brasileiros com curso superior. Casamentos interétnicos. Religião. População nipo-brasileira classificada segundo a ocupação.